20 agosto 2007

O Cinema a Técnica e o Instinto Corruptível das Massas

A Indústria Cultural e sua rede colaborativa trabalha em uníssono com o discurso orientador. Entre vaias, aplausos, violência corporal e cerceamento do direito de manifestar-se esta indústria só corrobora o que há anos se fala dela. Um festival glamuroso se mantém da autofagia. Foi assim o 35º Festival de Cinema em Gramado.

Flashes, lentes e iluminação. Estrelas de brilho maior cintilaram entre os mortais que se apinhavam no frio dos corredores cercados de anonimato. Até ai tudo bem porque o cinema só foi Revolucionário em potência. Preferiu, durante toda suas história, potencializar o Instinto Corruptível das Massas.

Mas em sua autofagia acabou extrapolando os limites. Griffith e Eisenstein chorariam lágrimas de sangue se estivessem vivos para ver em que lugar colocaram a Premiação Técnica no festival de Cinema em Gramado. Colocara no Lixo!

É impressionante que um festival de belezas que se pavoneiam com plumas alheias esqueçam os Quiquitos da base responsável pela magia do cinema acontecer, os Técnicos. Eles que fazem a magia do cinema! O ator é um instrumento na mão do Técnico, mas mesmo assim esqueceram os Quiquitos dos Técnicos.

Enquanto corrompem o público com seu glamour barato estão fazendo uma escolha pelo alinhamento ao sistema. Não posso criticar esta escolha. Mas quando esquecem de creditar ao trabalhador da Indústria de Sonhos o direito de usufruir as glórias do seu trabalho, ai já é decadência moral, não posso ficar calado.

Então Senhores do Poder! Os Quiquitos da Técnica quando virão? Queremos todos os Quiquitos que nos é de direito ou faremos GREVE.

Liandro J. Bulegon

Pássaro Livre

- Meu coração está em pedaços. O que fazer com essas migalhas? O peito apertado espreme-se por um amor que invadiu minha alma, mas não quer navegar comigo. Confessava-me um amigo, adoecido de amor.

O que há de se fazer com a embriaguez do amor? Nada! Nada, senão curvar-se ao sentimento. É preciso encher uma taça com um bom vinho e beber a dor.

Admiro pessoas que sofrem por amor. Quem sofre por amor fica lapidado feito jóia preciosa. Torna-se especial, corajoso, lutador, forte e consciente de que a razão não domina o mundo sozinha. Pois, razão nada mais é do que uma forte emoção revestida de conceitos, normas, prazos, até petrificar, até virar lei, até ganhar posto de Razão.

Adoecer de amor é ausência que se transforma em carne sofrida, rasgada, em brasa latejante - portanto, em sentimento-razão, sem disputa entre si. Pobre dos que passam por esse mundo e não experimentam o sabor amargo de um amor não correspondido. São essas vivências que nos tornam mais humanos, sensíveis e prontos para degustar o verdadeiro amor.

No entanto, os adoecidos de amor precisam dar um passo em direção à liberdade. Sim, pois a dor corrói, persegue, cria fantasmas, domestica, aprisiona. Meu amigo até reconhece: - sou pássaro preso em uma gaiola sem grades. Fico ali, não posso voar. Não quero voar.

Mas, é preciso deixar a alma voar. Nem que seja até o galho mais próximo. Pássaros feridos ensinam - quando não se pode voar, vai-se saltitando. Hora para outra, sem dar-se conta, silenciosamente, o amor pousa. Sim, o amor é borboleta, brisa suave, pôr-do-sol, é doce de chocolate com sorvete, é ombro amigo, é fé. O amor chega de mansinho, mas exige do adoecido vôo livre.

Meu amigo sabe de tudo isso. É apenas uma questão de tempo para deixar sua gaiola.

Celica Vebber

17 agosto 2007

Corrigindo um erro

Eu gosto muito da música! Gosto muito de ver o entrelaçamento dos músicos no palco quando fazem música. As performances me encantam. Porque no palco é travada uma luta, um jogo uma cumplicidade. Só podem dividir um palco pessoas que são cúmplices.

Um dia desse eu vi uma banda assim – cúmplice, e cometi um erro. Afirmei que quem mantinha a banda unidade era o baterista. No auge da minha loucura eu cometi um erro. Corrigi-lo é reconhecer que o que mantem uma banda unida é a música!

Quando estão no palco, todos estão na berlinda e para continuarem ali precisam estar unidos, precisam construir a música juntos a cada batida, a cada acorde até a obra estar completa. A música de uma banda é uma obra coletiva!

Bandas acabam porque não é observado o espaço dos parceiros de palco. Casamentos acabam por isso também. E uma vez acabado o que nasceu da espontaneidade não tem mais cura.

Black Cat é assim, uma banda que dá gosto de ver. A personalidade de cada integrante é preservada - está visível. A solidez da bateria, a sobriedade do baixo as nuances da guitarra e as entranhas vicerais do vocal.

É isso! As entranhas do vocal é o toque final, é a pitada de bom gosto. O flutuar da diva guerreira sobre as nuvens de acordes coroa de força e sensualidade uma fórmula que deu certo. Uma fórmula Santa-mariense, uma fórmula que já nos deu a Fuga, a Nocet e várias outras.

O Rock é assim, uma mistura explosiva. É por isso que ele se renova todo o dia e se reinventa a cada momento. É por isso que ele transgride, é por isso que é amado e odiado. E e por isso que ninguém consegue ficar insensível diante dele.

Liandro J. Bulegon

Escrevendo um jantar

O turbilhão de idéias precisa ser aprisionado na gaiola das palavras. Estou lendo Maiakóvski. Alguns textos na integra outros não, traduzidos é claro, porque Russo é “Russo”. Ele é fantástico, sua facilidade em criar imagens cristalinas é surpreendente. Queria eu fazer algo parecido.

Não consegui ainda um tempo para o Sartre, parece que ando fugindo dele. É como aquele assador de churrascos que deixa o melhor espeto para o final. É eu estou fazendo isso.

Falando em churrasco! Depois de Gorgia e sua retórica não consigo mais separar a culinária da produção textual. Fundiram-se em uma só coisa.

Quando decido ir pra cozinha fazer um jantar parto de uma idéia mínima, um prato que desejo preparar. O trabalho começa bem antes de levar os ingredientes ao fogo. Começa quando vou ao mercado escolher entre uma marca e outra de massa, ou um peixe, uma carne, uma verdura em melhor estado que a outra, tudo em quantidade aproximada.

De volta para casa, o trabalho é organizar este monte de coisas e contextualizá-las. Retiro-as das sacolas disponho sobre o balcão e vou organizando as idéias, medindo as porções. Como serão cozidos, que tempo de cozimento cada um requer, como serão misturados. Assim vou tecendo o texto do jantar. Tudo converge para o ponto de apresentar o prato à mesa para que todos possam deliciar-se. É assim que eu cozinho, é assim que recebo os amigos em minha casa. É assim que eu escrevo um jantar.

Com as crônicas também é assim, vou juntando os ingredientes aqui, ali, acolá guardando em pequenas caixinhas, em cantinhos da memória, em nacos de emoções. Quando decido coze-las, já esta tudo ai, só preciso organizar as palavras, mistura-las em suas porções exatas e na ordem exigida, de acordo com o efeito que desejo. É assim que cozinho um texto.

Vez por outra sai alguma coisa que presta. Mas pouco importa, minha total delicia está em produzir o belo e desfrutá-lo na companhia dos meus amigos. E porque são amigos perdoarão meus deslizes.

As impressões eu deixo para que cada um perceba em sua experiência sensorial. E se ela for negativa na próxima crônica eu troco o cardápio.

Liandro J. Bulegon

Sim para Ulisses

Ulisses me fez um convite. Foi ousado. Pediu um pouco do meu tempo. Um pouco das minhas idéias, das minhas ansiedades. Foi um convite sem pretensões, sem expectativas, sem hora marcada. Analiso o convite. Um chamado inesperado e tentador.

Ulisses é um louco! Sabe que quando se faz um convite, pode-se ouvir um sim! E o sim é comprometedor. É resposta positiva, é óvulo fecundo, é início de uma nova história. O sim transforma-se em desejo, partilha, doação. Sempre que há um convite, há – antecipadamente - doação. Doa-se quem convida, quem hospeda, quem permite outras idéias, sem medo de perder a identidade.

Celica Vebber

15 agosto 2007

Sobre a desobediência

Menina, não seja teimosa! Faça o que estou mandando. Cresci ouvindo esse imperativo. Crianças não deveriam teimar, aprendi na infância. Teimosia era uma coisa feia, passivo de punição, muitas vezes pública. Os teimosos eram constantemente ameaçados de serem delatados ao Papai Noel e, no natal, não receberem presentes.

Percebi, no entanto, que essas crianças tinham vantagens: seus desejos eram atendidos com mais eficiência do que as obedientes. As criaturas obedientes ficavam ali, engomadinhas, sentadas, esperando a palavra de ordem. As teimosas faziam-se livres, divertindo-se por romper o imperativo. Umas ganhavam elogios, outras, a liberdade da desobediência.

Crianças desobedientes foram desvendando limites - os seus e dos outros. Foram abrindo portas, construindo seu mundo, saboreando conquistas, experimentando o próprio potencial. Descobriram que riscos valem à pena: desafiar normas e, mesmo assim, ganhar presentes nas datas esperadas. Mas, era necessário bater-pé, cruzar os braços, fazer bico, derramar lágrimas, reclamar, arregalar os olhos e dizer: - eu quero!

É verdade que desobediência implica coragem. Coragem para dizer não e dizer sim, coragem para suportar voz grave, cara feia, castigos, dor de palmadas. Mas, coragem é isso: bravura, ousadia e persistência. Perseverar significa conservar-se firme, insistir, expressar idéias, expor sentimentos, mostrar-se. É isso: quem persiste, teima, desobedece as cercas e os limites, quem contesta - existe. Foram eles, os desobedientes e teimosos, os inventores da persistência. E, ninguém resiste à persistência!

Tenho um amigo teimoso. Acho que ele foi uma dessas crianças desobedientes. Cheguei a essa conclusão porque esse amigo tem um amor proibido. Desses que se carrega no peito, que se perde horas de sono e não se pode revelar a ninguém. Lutar por um amor já é difícil, quanto mais se for proibido. Só se for muito teimoso mesmo!

Penso nesse amor. Penso nele como se fosse uma borboleta em formação. Está no casulo, escondida, adormecida, ainda não tem asas, ainda não sabe voar, ainda precisa ficar enroscada nos fios do próprio esconderijo, nos emaranhados da própria vida. Mas, um dia sairá como borboleta. Acho que meu amigo sabe disso. Ninguém teima se não tem certeza. Por isso a persistência, a vigilância, a paciência.

Penso em meu amigo, em sua espera, em sua crença, em sua dor. Sim, pois esperar um amor despertar de suas amarras é ferida contemplada. Mas, como o amor é fé lambuzada de esperanças e sonhos, meu amigo teima. Uma teimosia que se faz coragem - bela igual lua cheia, em noite escura.

Celica Vebber

09 agosto 2007

Que o Ocidente me espere

Fui conhecer a noite de Porto Alegre no início da década de 90, ali por meados do ano de 1991, quando o Caco e o Leandro vieram morar perto do Palácio Piratini, na Duque. A Duque de Caxias foi meu ponto de referência por muito tempo na Capital.

Lembro da primeira vez que cheguei aqui. - Um telefonema para o Leandro, encontrei-o na antiga loja de Aviamentos ali na Av. Julio de Castilhos. - É bem fácil chegar até onde estou, sai da Rodoviária e passa pelo Túnel chegará na Av. Julio de Castilhos, a Loja é no número tal. Eu fico te esperando!

Claro que os guris mais conhecedores de Porto Alegre me levaram para conhecer o Brique da Redenção, tomamos uns mates no Gasômetro vendo o Por do Sol na beira do Guaíba. Apaixonei-me pela cidade!

No mesmo final de semana fomos ouvir Rock ali no Scaler, atrás do Luar e Luar. O negócio era um cubículo, um balcão e mais nada. Naquela época não havia o Parquinho, ainda era um campo de futebol onde a galera mandava ver no som, a partir das 17:00 nas tardes de Domingo, num palco improvisado ao ar livre.

Depois que descobri o caminho das pedras as visitas a Capital ficaram freqüentes. Para a Oswaldo Aranha nos dirigíamos constantemente. Bar do João, Bar da Lola o próprio Luar. Pai recomendando que filhinha não aparecesse por lá.

Nossa! Era muito bom tudo aquilo. Eu me sentia cosmopolita! Quanta gente diferente. As calçadas lotadas, ruas entupidas de carros, cheiro de fumaça, cerveja gelada e as estrelas por telhado. Um guri do interior solto no mundo.

E assim fui acompanhando meio de perto meio a distância a vida noturna da Oswaldo Aranha. Toda vez que podia dar uma escapadinha de Santa Maria e vir a Capital eu dava um pulo lá.

Na época ainda notávamos alguns resquícios dos Hippies por ali. Depois vieram os Darks e por fim os Punks. Promoveram aquele quebra-quebra. Foi assim que a vida noturna da Oswaldo acabou. O quebra-quebra Punk não foi a causa, foi a conseqüência. Era inevitável.

Todas as vezes que fui para Oswaldo nunca consegui entrar no Ocidente. Isso ficou como um compromisso adiado por muito tempo. Sorte que o Bar resistiu até ontem.

A vida dá suas voltas, e depois de 15 anos, novamente solteiro e morando na Cidade Baixa, você tem duvida de que eu iria até o Ocidente? Foi numa Balonê. Festa dos anos 80. Não poderia ter oportunidade melhor.

Fui a pé numa noite fria de agosto. Atravessei a Perimetral, entrei na Sarmento Leite. Passei pela frente do prédio de Engenharia da Ufrgs e cheguei na Oswaldo. A noite estava fria, eu gosto de noites assim. Gosto de caminhar em noite fria!

Senti um pouco de nostalgia enquanto caminhava pela calçada da Oswaldo. Estava deserta. Num sábado a noite estava deserta! Naqueles tempos as 23:30 estaria pegando fogo. Senti uma pontinha de tristeza!

Tudo bem vai em frente pensei, a final o Ocidente esta lá te esperando por 15 anos. Não dá pra perder a oportunidade. Fiquei hora e pico na fila, na esquina da Oswaldo com a João Teles. Sozinho numa noite fria.

A musica transformou essa esquina, algo como uma Ipiranga e a Avenida São João dos Paulistas. Um grupo de meninas de lá, bravas com o Caetano, também estavam na fila. Negaram a deselegância discreta daquelas meninas. Não dei importância.

Entrei, me diverti. Ouvi musica antiga, mulheres lindíssimas, cerveja gela. Aquele atrolho Zé. E eu feliz!

-Um Brinde. De volta para noite e com os pés no Ocidente!

Liandro J. Bulegon.

07 agosto 2007

Um convite ao inesperado

Podem chamar de dialética, podem chamar de síntese, evolução ou mesmo decadência. Não importa!

Apesar de entender a produção coletiva a iniciativa do meu blog foi solitária. Resisti até não poder mais.

Assim como afirmei que nunca decidiria por uma das pílulas e decidi, também assumi a responsábilidade da autoria. Agora convido amigos para colaborarem com o NoosferaDigital.

Vocês podem notar que alguns textos já foram escritos pela Jornalista Celica Vebber e pelo Publicitário Liandro Bulegon. E outros virão....

E eu agora passo de um solitário navegando a esmo para a posição de mestre de cerimônias. Um Ulisses com o leme na não....

Reverências a todos. Sejam bem vindos e divirtam-se!