20 agosto 2007

Pássaro Livre

- Meu coração está em pedaços. O que fazer com essas migalhas? O peito apertado espreme-se por um amor que invadiu minha alma, mas não quer navegar comigo. Confessava-me um amigo, adoecido de amor.

O que há de se fazer com a embriaguez do amor? Nada! Nada, senão curvar-se ao sentimento. É preciso encher uma taça com um bom vinho e beber a dor.

Admiro pessoas que sofrem por amor. Quem sofre por amor fica lapidado feito jóia preciosa. Torna-se especial, corajoso, lutador, forte e consciente de que a razão não domina o mundo sozinha. Pois, razão nada mais é do que uma forte emoção revestida de conceitos, normas, prazos, até petrificar, até virar lei, até ganhar posto de Razão.

Adoecer de amor é ausência que se transforma em carne sofrida, rasgada, em brasa latejante - portanto, em sentimento-razão, sem disputa entre si. Pobre dos que passam por esse mundo e não experimentam o sabor amargo de um amor não correspondido. São essas vivências que nos tornam mais humanos, sensíveis e prontos para degustar o verdadeiro amor.

No entanto, os adoecidos de amor precisam dar um passo em direção à liberdade. Sim, pois a dor corrói, persegue, cria fantasmas, domestica, aprisiona. Meu amigo até reconhece: - sou pássaro preso em uma gaiola sem grades. Fico ali, não posso voar. Não quero voar.

Mas, é preciso deixar a alma voar. Nem que seja até o galho mais próximo. Pássaros feridos ensinam - quando não se pode voar, vai-se saltitando. Hora para outra, sem dar-se conta, silenciosamente, o amor pousa. Sim, o amor é borboleta, brisa suave, pôr-do-sol, é doce de chocolate com sorvete, é ombro amigo, é fé. O amor chega de mansinho, mas exige do adoecido vôo livre.

Meu amigo sabe de tudo isso. É apenas uma questão de tempo para deixar sua gaiola.

Celica Vebber