17 agosto 2007

Escrevendo um jantar

O turbilhão de idéias precisa ser aprisionado na gaiola das palavras. Estou lendo Maiakóvski. Alguns textos na integra outros não, traduzidos é claro, porque Russo é “Russo”. Ele é fantástico, sua facilidade em criar imagens cristalinas é surpreendente. Queria eu fazer algo parecido.

Não consegui ainda um tempo para o Sartre, parece que ando fugindo dele. É como aquele assador de churrascos que deixa o melhor espeto para o final. É eu estou fazendo isso.

Falando em churrasco! Depois de Gorgia e sua retórica não consigo mais separar a culinária da produção textual. Fundiram-se em uma só coisa.

Quando decido ir pra cozinha fazer um jantar parto de uma idéia mínima, um prato que desejo preparar. O trabalho começa bem antes de levar os ingredientes ao fogo. Começa quando vou ao mercado escolher entre uma marca e outra de massa, ou um peixe, uma carne, uma verdura em melhor estado que a outra, tudo em quantidade aproximada.

De volta para casa, o trabalho é organizar este monte de coisas e contextualizá-las. Retiro-as das sacolas disponho sobre o balcão e vou organizando as idéias, medindo as porções. Como serão cozidos, que tempo de cozimento cada um requer, como serão misturados. Assim vou tecendo o texto do jantar. Tudo converge para o ponto de apresentar o prato à mesa para que todos possam deliciar-se. É assim que eu cozinho, é assim que recebo os amigos em minha casa. É assim que eu escrevo um jantar.

Com as crônicas também é assim, vou juntando os ingredientes aqui, ali, acolá guardando em pequenas caixinhas, em cantinhos da memória, em nacos de emoções. Quando decido coze-las, já esta tudo ai, só preciso organizar as palavras, mistura-las em suas porções exatas e na ordem exigida, de acordo com o efeito que desejo. É assim que cozinho um texto.

Vez por outra sai alguma coisa que presta. Mas pouco importa, minha total delicia está em produzir o belo e desfrutá-lo na companhia dos meus amigos. E porque são amigos perdoarão meus deslizes.

As impressões eu deixo para que cada um perceba em sua experiência sensorial. E se ela for negativa na próxima crônica eu troco o cardápio.

Liandro J. Bulegon