13 junho 2006

Impérios e territórios: uma geografia da linguagem...

Outro dia estava lendo o artigo do Gustavo Mansur : ”China censura web, Microsoft e Google ajudam”, postado no site webInsider. Esse artigo trata do plano Chinês para controlar a internet. Encontrei no artigo a afirmação “ Na internet os únicos países reais são os idiomas“.

Essa afirmação ficou martelando na minha cabeça, como aquele alarme chato do despertador, que logo pela manhã me acorda. Na verdade, essa idéia já vinha se formando em mim há algum tempo, o texto do Gustavo só puxou estas idéias para a consciência, e assim pude elaborá-la neste texto. É sobre isso que trato aqui.

Primeiro, no melhor do espírito cartesiano disseco a frase do Mansur e encontro nela três pontos dignos de observação: a internet, os países reais e o idioma. Isso parece simples, mas é na relação destes conceitos que encontramos as principais questões referentes à internet.

Iniciamos pela internet, sei que muito já se falou e muito vai se falar sobre ela, milhares de teorias estão pipocando, algumas novas com grande potencial, outras prometendo a própria redenção da humanidade. Há, ainda, aquelas que negam o avanço tecnológico, mais ou menos naquela linha dos conservadores que queimavam as máquinas a vapor, há alguns séculos atrás.

Na ótica materialista histórica das infra e super-estruturas poderíamos separar a internet em duas facetas. Em sua materialidade estariam os servidores, as redes de fibra ótica, as instalações de telefonia, os satélites, os softwares, os protocolos de comunicação e toda aquela parafernália que constrói o canal de comunicação por onde fluem as mensagens. E sua imaterialidade é o próprio jogo de cena que o discurso da virtualidade causa ao requisitar sua radicalidade.

Por outro lado, o enfoque sistêmico não percebe esta separatividade tão nitidamente, e não reconhece os limites como coisas palpáveis, preferem estes, colocar as coisas em termos de processos, agentes e campos de força que tendem para homeostase, onde os inputs e outputs servem para bagunçar esse equilíbrio. Ainda bem, porque a homeostase já é em si a própria morte do sistema.

As duas abordagens estão corretas, e quando aproveitamos o melhor de cada uma podemos adicionar a historicidade no caos, assim trabalhamos a cultura com referenciais históricos, e mesmo assim não a engessamos.

Quando falamos em cultura nos reportamos a sua expressão mais primária: o cultivar a terra, semear os campos e tomar posse do espaço.

Para colher os frutos da terra é preciso afugentar os animais, os possíveis larápios e as pragas que consomem a plantação.

Quando o cultivo toma o lugar da simples coleta de alimentos, a população cresce em função da disponibilidade dos estoques formados. E os limites deste espaço controlado tendem a aumentar. É nessa lógica que os impérios se proliferaram através da história.

Após subjugarem seus oponentes, os impérios geralmente destroem as edificações locais e inscrevem o novo limite de domínio. E para isso que é usada a arquitetura, para cultivar os valores do vencedor. O território é o primeiro a ser conquistado, posteriormente o dominador necessita conquistar os corações e as mentes dos seus subjugados.

Para isso as cidades são mecanismos eficientes, e funcionam como ponto de convergência; e o espaço público construído nas ruelas, igrejas, casas de comércio, praças, é o espaço onde a ideologia afirmativa se instala. Nas idéias que circulam pelas arquiteturas das casas um novo corpo cultural vai se formando.

Em escala geograficamente mais abrangente, este corpo cultural se derrama pelos caminhos e estradas comungando com outras cidades, vilas e povoados. Ligando-os umbilicalmente ao interesse central,e escrevendo dessa maneira os alicerces da nova geografia política do poder.

Uma nação ou estado se faz com a participação do seu povo em seu território, orientado pelos valores da cultura construída ao longo de sua história.

A questão que se coloca aqui é a flexibilidade do conceito de território, pois sabemos que existem exemplos de povo que se reconhecem como nação, mesmo sem um território geográfico. E sendo assim, tem razão o Gustavo quando afirma que os idiomas são “países reais” . Pois quando Mcluhan afima que o meio é a mensagem, entendemos a mensagem como território passível de dominação e controle.

Se nos territórios geográficos, os mais fortes são os que dominam a engenharia, que proporciona o deslocamento mais eficiente. No território da internet os que dominam a linguagem impondo seu idioma, são os povos com maior potência.

Eu não me assusto quando ouço falar que estão querendo controlar a internet, e fragmentar este canal, pois sempre houve tentativas históricas de cercear a liberdade. Eu me preocupo e me pergunto: qual o idioma que vai estar se falando nestes fragmentos? Mais preocupado fico se o idioma for único.

02 junho 2006

Correndo em círculos

Inicio esta postagem com a frase final da última postagem.

Então, como delimitar um território se não se pode mais medi-lo, nem saber quanto tempo levariamos para sair dele e chegar ao lado de fora? Como saber onde estamos agora? Estamos plantados em territórios ou soltos no espaço aberto.....

Agora tenho uma resposta satisfatória, os limites são as próprias vissicitudes da linguagem e do poder corrompido do controle. O caminho que se percorrerá na delimitação desse espaço é o filtro dos conteúdos já que o acesso não pode ser negado.

Prendiam-se os escravos com correntes, trancava-se as esposas em seus quartos, guardava-se os delinquentes em celas, agora filtram-se os conteúdos, censura-se a informações.

É a história se repete.....