04 setembro 2007

Um dia na Bienal

Dentre os últimos finais de semana este foi o mais produtivo. Na Sexta-Feira fui ao Centro Cultural do Movimento, o MEME. Lá aconteceu uma TAZ. Teve dança, música, performances, happening e Polar gelada.

A primeira quebra de paradigma foi a ausência de palcos, tudo aconteceu no mesmo nível dos espectadores. O espetáculo pode ser democrático sim!

A segunda foi o improviso e a descontração que fizeram parte de todo o evento, e por isso nos tornamos espectadores participantes. Cultura é feita assim coletivamente, cultura se constrói assim pedacinho a pedacinho, meme a meme. Cultura só obedece ao campo de força criado pelos participantes. Cultura é feita assim, e o Laco (Paulo Guimarães) foi o mestre de Cerimônias daquela noite.

No Sábado, embebido de bom gosto da noite anterior fui à Bienal. Confesso! Fiquei irritado. O que me consola é que acredito na arte cumprindo esta função também. A de irritar. Indiferente é que não podemos ficar!

Uma Bienal que procura a terceira margem se afogou no meio do rio. O único bote salva-vidas foi o Teatro do Chat, mas até este a técnica deixou na mão. Quando o visitei não estavam conseguindo conexão com a rede.

No mais do trajeto não vi nada que tencionasse a linguagem e o espaço. Como tencionar o espaço com Vídeos? Só encontrei vídeos, Chapados em paredes e nada mais ousado. A terceira margem não apareceu por lá. Poderiam projetar um vídeo em suas costas se ela aparecer.

Por falar em ousadia, em uma das instalações daquelas tantas iguais que estavam por lá havia uma sala escura com um projetor faiscando coisas que se pregavam na parede lisa, vi uma mãe com duas crianças se divertindo e brincando de fazer sombras. Eles estavam felizes, e eu me divertia vendo algo de humanamente interessante na Bienal. Fora do script, mas estava acontecendo algo humano lá.

Elas exploravam o espaço e brincavam com os feixes de luz que saia da geringonça. Sim elas faziam arte, até serem interrompidas por um dos tantos Segurança que na justa posição de cumprir seu dever as avisou, assim vocês atrapalham os eruditos espectadores. Quase chorei. Quem atrapalhou o espetáculo foi o Segurança. Que fazer! Que fazer! Que fazer!

Na noite anterior o Laco fez isso intencionalmente. Entre feixes de luz ele dançou uma coreografia, assim, com sombras na parede, como aquela mãe e seus filhos dançaram, sem saber que dançavam. No MEME eles sabem que dançam, e não existem Seguranças Guardiões da Ordem para atrapalhar.

Burocratas da Cultura, por favor, parem com isso que estão fazendo, vocês não conseguirão matar a veia engajada da arte! Explorem a técnica, explorem o vídeo, explorem o espaço, explorem a linguagem, mas não esqueçam que arte é feita com o povo, inclusive para aquele Segurança.

E é ai que vocês se atocham. Porque vão fazer Samba e sai Samba ruim.

Liandro J. Bulegon.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

a pergunta é pertinente: o que fazer? o que fazer? e mais ainda, como fazer? andar no contrafluxo cansa e por vezes desanima, mas é por acreditarmos com todas as nossas fibras naquilo que fazemos - arte, dança - é que : fazemos... sem grandes pretensões e ao mesmo tempo tendo toda audácia (im)possível,audácia de se expor... foi por acreditar nestes ideais que me uni ao Meme... ao Laco... e a todos aqueles que não pretendem guardar ordem nenhuma... lindo texto... obrigada... Fernanda

9:05 AM  

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